No início da pandemia, especificamente em março de 2020, a cloroquina surgiu como um possível tratamento para a doença com base em dois estudos de qualidade questionável.[23] Notavelmente, o então presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, endossou um desses estudos, desafiando assim as recomendações da Food and Drug Administration (FDA), o que levou a politização da questão.[23] No Brasil, o então presidente Jair Bolsonaro rapidamente adotou esse discurso.[24][25] Nos meses subsequentes, o governo brasileiro tomou medidas para promover a cloroquina e a hidroxicloroquina como tratamentos para a COVID-19. Isso incluiu a ordenação da produção,[25][26][27][28] coordenação da distribuição[29] e um gasto considerável de aproximadamente 90 milhões de reais na aquisição desses medicamentos.[30] Além disso, o Ministério da Saúde, sob a liderança de Eduardo Pazuello, ampliou o uso dessas substâncias para tratar casos leves da doença.[31][32][33]
O kit Covid gerou entre a população uma falsa sensação de segurança, sugerindo que a vida poderia retornar ao seu estado anterior, sem a necessidade de medidas de isolamento social.[34] No entanto, essa abordagem resultou no aumento do número de infecções, hospitalizações e mortes.[35][36][37] Além disso, o uso generalizado desses medicamentos, juntamente com seus potenciais efeitos colaterais, causou danos significativos aos rins e ao fígado de seus usuários.[38] Essa abordagem foi amplamente criticada por organizações e especialistas em saúde devido à falta de embasamento científico e à potencial periculosidade associada ao seu uso.[39][40][41] Não obstante, tornou-se objeto de ações judiciais e investigações relacionadas a possíveis favorecimentos envolvendo agentes públicos e privados em busca de ganhos financeiros.[42][43]
↑Rodrigues, Fernanda Castelano; Costa, Julia Lourenço; Baronas, Roberto Leiser (2022). Enciclopédia discursiva da COVID-19: o primeiro ano da pandemia no Brasil. São Carlos: EdUFSCar. 150 páginas. ISBN9786586768916. Ainda que cientistas do mundo todo divulgassem e publicassem resultados positivos sobre a vacina e afirmassem a falta de comprovação da eficácia de diversos medicamentos no tratamento da COVID-19, o governo federal brasileiro investiu pesadamente em medicamentos como cloroquina, defendida ferrenhamente pelo próprio presidente.
↑Duarte, André (2022). Pandemic and Crisis of Democracy: Biopolitics, Neoliberalism, and Necropolitics in Bolsonaro’s Brazil. Nova Iorque: Taylor & Francis. 182 páginas. ISBN9781000637236. Even worse, Bolsonaro and former Health Minister Pazuello continued to emphatically endorse the prescription and administration of such drugs after all health and scientific institution around the world had long closed the case after concluding that such medicines were useless to treat cases of COVID-19 and dangerous when used continually.
↑Rodrigues, Randolfe; Costa, Humberto (2022). A política contra o vírus: Bastidores da CPI da Covid. [S.l.]: Companhia das Letras. 152 páginas. ISBN9786557826874. Vários outros médicos, inacreditavelmente, aderiram a essa tese da imunidade de rebanho e passaram a defender a prevenção e o tratamento da doença por meio do denominado kit covid, formado por medicamentos comprovadamente inecazes contra o vírus, dando às pessoas uma falsa segurança de que a vida poderia seguir com tranquilidade, sem o necessário isolamento.